segunda-feira, 16 de março de 2009

Papo Cabeça

Estou chato. Acho que a idade, o casamento e um filho por vir me deixaram mais exigente quanto a tudo o que existe no mundo. Assim, bati um papo com o Gus Lanzetta, "jornaleiro" de games sobre a qualidade dos jogos de hoje, principalmente RE 5, que foi o tema principal. Veja o que rolou por MSN e acessem o site dele, o Digerati Games:


Gus Lanzetta: Estamos aqui, eu (Gus Lanzetta, do Digerati Games) e Gustavo Petró (Editor da revista GameMaster) começando esta semana já com uma discussão sobre a qualidade dos games atuais.

Gustavo Petró: É, porque ta ruim pacas... Olá pessoal.

Gus Lanzetta: Já eu acho que ta mais do que boa em geral. Claro que há muitos jogos ruins.

Gustavo Petró: Essa conversa começou porque eu terminei RE 5 e detestei. Achei um jogo vazio demais. Não acrescenta nada para quem joga e foi feito apenas para vender.
Tanto que recebi esse mail da Capcom hoje:
“Wanted to let you know that Capcom's headquarters in Osaka, Japan, today announced that the initial world-wide shipment of Resident Evil 5 surpassed more than 4 million units. This is the biggest launch for any of the Resident Evil games to date.
With RE5, this now brings the tally of Resident Evil games worldwide to over 40 million units since the series debuted in March of 1996! Additionally,

Gustavo Petró: the three “Resident Evil” Hollywood major motion pictures have achieved combined sales of over 300 million dollars, and the CG film, “Resident Evil: Degeneration,” has now shipped over 1.5 million copies.”

Gus Lanzetta: Ah, mas isso toda empresa faz, adoram que o mundo saiba que eles estão se dando bem

Gustavo Petró: Sim,mas não justifica fazer jogos puramente comerciais. É a mesma coisa ir ao cinema e ver aqueles filmes toscos que são os blockbusters só para vender. Acho que, como jogadores, temos que ser exigentes, ou melhor, mais exigentes.
Do mesmo modo que não assistimos à qualquer coisa na TV como novelas, BBB e etc. Não temos que jogar certos jogos e RE 5 é um exemplo.

Gus Lanzetta: Mas a justificativa está em ser só comercial. É feito pra vender e vende. E bem, todo jogo espera vender bem. Mas concordo que temos que entender que comprar um jogo destes é apoiar uma prática ruim. O problema é que, muitas vezes, as pessoas nem percebem que ir ver um filme ruim no cinema ou comprar um jogo ruim perpetua a produção daquele tipo de conteúdo

Gustavo Petró: Não quero que as pessoas não joguem e, sim, que saibam escolher, saber que certos jogos não acrescentam em nada culturalmente. Ainda bem que não serei eu quem fará o review do RE 5. Senão...

Gus Lanzetta: Ainda bem? Por quê? Não seria bom que houvesse um review que alerte os leitores para os problemas do jogo?

Gustavo Petró: Porque senão o jogo receberia uma nota baixíssima que, na minha opinião, era a que ele merece... Mas iria contra a toda uma indústria que está venerando esses títulos.

Gus Lanzetta: Mas a nota não tem que refletir a opinião do reviewer?

Gustavo Petró: Tem sim.

Gus Lanzetta: To hell com o que "a indústria" venera.

Gustavo Petró: É, mas lembre-se do caso Ninja Gaiden Black da EGM Brasil há alguns anos atrás

Gus Lanzetta: Me lembro.

Gustavo Petró: Não quero causar polêmica com RE 5. Não sinto que esse seja o momento. Mas já é um começo e a GameMaster irá de encontro a tudo isso que disse aqui.

Gus Lanzetta: Acho que ta aí onde discordo de você, acho que expressar a opinião sobre o jogo em um review, mesmo que seja forte e diferente (neste caso nem tanto) vem antes de saber se haverá polêmica. Acho que se rola polêmica é pelos outros, tudo que você pode fazer é defender a opinião que está no review.

Gustavo Petró: Eu sei da polêmica, porque quem está comprando as revistas, acessando os sites, querem que jogos aguardados como RE5 querem ver notas boas. Se você vai contra a maré, já viu.

Gus Lanzetta: Mas o leitor que já espera uma nota x pra um jogo que não jogou é limitado em seu pensamento, o review tem que ser honesto porque o leitor para quem ele é útil é o leitor que quer saber qual é a do jogo, honestamente. E além disso, acho que eu, mesmo sem pensar no leitor que "precisa" do review, não conseguiria "afofar" um review meu e omitir opiniões para não cutucar alguém.

Gustavo Petró: Então você ta dizendo que 99% dos leitores tem o pensamento limitado.

Gus Lanzetta: Talvez, mas não acredito que seja 99%, mas que há muitos assim há.

Gustavo Petró: A maioria é assim.Te cito N exemplos de e-mails que chegam aqui reclamando das notas de jogo X ou Y. Eu sou contra as notas nos reviews e rezo para um dia me deixarem tirá-las da GameMaster.

Gus Lanzetta: Mas moldar um review para esses caras não cria um círculo vicioso?

Gustavo Petró: Não sei, porque se eu não moldo, outros moldarão. Eu serei a minoria.

Gus Lanzetta: E outra coisa: leitores como este normalmente já "sabem" o que vão comprar sem reviews e a maioria pirateia então joga tudo que é porcaria.
Mas ser a minoria honesta é ruim?

Gustavo Petró: É porque fazemos parte de um sistema corporativo imperialista. Eles só querem o lucro. Para eles, ir contra significa vender menos. E vender menos significa menos riqueza e funcionário na rua.

Gus Lanzetta: mas se seu review não vai ter a opinião verdadeira ali expressa, pra que ter review?

Gustavo Petró: Os meus e os reviews que saíram até agora na GameMaster sempre refletem a opinião verdadeira. O problema é que com RE 5 é diferente. Querem justamente o contrário.

Gus Lanzetta: E os seus leitores que querem a opinião verdadeira?

Gustavo Petró: Acho que eles são bastante inteligentes para isso. Temos que lutar por um conteúdo mais crítico. Impedir que jogos assim, como RE 5, ganhem notoriedade por algo que eles não tem... Se você visse onde acontece a batalha final do game, me entenderia...

Gus Lanzetta: Mas então o review não é contraproducente se ele deixa de ser tão crítico quanto poderia ser?

Gustavo Petró: Certamente. E isso é visível em muitas publicações por aí. Vou lutar para dar a RE 5 , que é o nosso exemplo, tenha a análise merecida. E isso que sou fã da série, hein.

Gus Lanzetta: Pois esse negócio de ser fã da série acredito que ajuda o reviewer em muitos casos, por exemplo: Eu sou fã de Mortal Kombat (bicho raro hoje em dia) e por isso acho que sou mais exigente com os jogos da série do que a maior parte do público, que já vê a série como "café-com-leite".

Gustavo Petró: O problema, como eu disse, é ir contra à maré.

Gus Lanzetta: Ah, não sei se é só por costume, mas não vejo problema com isso.

Gustavo Petró: Como editor, eu vejo. Se o cara não gostar de algo na revista, como um review que fale mal de um jogo "hypeado", ele não compra mais a revista e voltamos para aquilo que falei das empresas hoje.

Gus Lanzetta: Mas será que o efeito é tão danoso assim? Há tantos leitores como esse e esse leitor não se interessa pelos resto da revista? Só por reviews?

Gustavo Petró: A maioria é assim, por mais que o restante da revista esteja boa, se um review não estiver bom, cabou-se. Você tem que acabar o jogo e sentir que aquilo que você jogou acrescentou algo, culturalmente falando, na sua vida. E RE 5 não faz isso.

Gus Lanzetta: Ou que, pelo menos, você tenha se divertido. Por isso gostei de 50 Cent Blood On The Sand.

Gustavo Petró: cara, mesmo divertindo, acho que, todo o meio de entretenimento tem que acrescentar algo, mas como tudo está atrelado a uma grande corporação, isso é utopia de acontecer.

Gus Lanzetta: Ah, eu acho que há lugar para os dois, do mesmo jeito que há lugar para filmes "cabeça" Adrenalina, por exemplo.

Gustavo Petró: concordo... Mas precisamos acordar porque n existe os dois no momento, a maciça maioria é de jogos blockbuster.

Gus Lanzetta: Sim, é, mas o nicho de games mais "cabeça" está crescendo.

Gustavo Petró: Precisa ser 50/50, isso seria um mercado perfeito e eu não estaria sendo tão chato quanto estou sendo nessa segunda-feira mala.

Gus Lanzetta: Sim, mas a gente acabou de vir de uma década onde era 100/0.

Gustavo Petró: E continua assim.

Gus Lanzetta: Não continua, hoje estamos com 95/5. Que já faz uma puta diferença.

Gustavo Petró: Discordo, então é 99/1.

Gus Lanzetta: Hoje os jogos mais intelectuais ou mais "artísticos" existem e podem chegar ao público. Seja pelos Community Games da Live ou pelo Live Arcade como Braid.

Gustavo Petró: Com a crise e com a distribuição digital, acredito que esses jogos ganharão mais espaço, é o que espero. E espero que RE 6 agregue mais valor ao nosso cérebro. Eu deveria ter lido um livro a jogar o game.

Gus Lanzetta: Acho que mesmo se não houvesse crise essa seria a evolução natural proporcionada pela maior facilidade de acesso às ferramentas de criação e PRINCIPALMENTE: distribuição, que hoje é simples demais com a internet.

Gustavo Petró: Concordo, mas essa evolução natural precisa de um catalisador, e isso está na mente dos jogadores que precisam ser mais exigentes.

Gus Lanzetta: Concordo e acho que quanto mais jogadores conhecerem jogos como Braid eles criarão um "paladar" mais "sofisticado"

Gustavo Petró: Exato!

Gus Lanzetta: E daí virá a demanda crescente.

Gustavo Petró: E evitarão jogos como RE 5.

Gus Lanzetta: Sim.

Gustavo Petró: Não que o jogo seja artisticamente ruim, pelo contrário, nesse quesito ele é bom, estou falando do que ele passa p gente, do conteúdo, da cultura, etc.

Gus Lanzetta: E falando do conteúdo: E a questão do racismo no jogo? Tendo jogado ele inteiro, o que você achou?

Gustavo Petró: Racismo o c******. Se fosse no Brasil, com brasileiros infectados, seria racismo? Alguém falou dos latinos do RE 4?

Gus Lanzetta: Pois é, esta é minha percepção também.

Gustavo Petró: Mas é a mesma coisa daquele episódio dos Simpsons no Brasil... Eu achei o máximo, mas muitos se sentiram ofendidos. Os japoneses se sentiram ofendidos com as piadas que eles fizeram quando foram para lá?

Gus Lanzetta: Pois é.

Gustavo Petró: Já que somos mas inteligentes que os americanos, precisamos mudar nossa cabeça.

Gus Lanzetta: Também acho, lá é que o furor pelo suposto racismo no jogo ainda rola solto. E é onde começou.

Gustavo Petró: É.

Gustavo Petró: Acho que consegui explicar bem o que penso.

Gus Lanzetta: que bom, então vamos encerrar por aqui este Papo Cabeça?

Gustavo Petró: Por enquanto sim, mas a qualquer momento, quando o mundo precisar da gente, ativaremos nosso MSN contra as corporações imperialistas desse globo decadente que está chegando ao fim... É a crise e 2012 chegando.

Gus Lanzetta: UHU \o/

Gustavo Petró: Valeu Gus pela oportunidade.

Gus Lanzetta: E obrigado a você também Petró, por trazer aí suas idéias e pontos de vistas sobre essa indústria vital.

Gustavo Petró: Vital ou não, ou até que provem o contrário.

4 comentários:

  1. Whoa! Muito bons os argumentos de vocês! Me dá até orgulho de ser (mais um) Gustavo no mundo gamer! :D

    Petró, não sei se tu vai se lembrar de mim, mas a gente se falou por 2 minutos quando eu visitei a editora, eu tava lá com o Fabão e tu tinha acabado chegar, tinha ido gravar um podcast. xD

    Mas meu, eu sinto a mesma coisa que o Gus Lanzetta falou, de certo modo. Eu entendo, claro, o efeito que um review "contra a maré" faz pra imagem e pras vendas de uma revista, claro... só que eu também acho que, se justamente esse pessoal formador de opinião (os jornalistas, no caso) não se manifestarem, vai ser muito mais difícil mudar. Não digo isso pra você chegar lá e descer a lenha no review de RE5, mas digo pra expressar suas opiniões de algum modo, talvez de um modo mais ameno, talvez no editorial, ou numa matéria especial de "porque existem tantos games sem conteúdo". é importante pra gente, que escreve (no meu caso, no blog www.facanoconsole.com.br), poder extravasar essas opiniões (que corroem a gente por dentro, não é?), e também é importante pros leitores mais "alienados" começarem a pensar sobre o assunto.

    Espero algum dia poder sentar e discutir sobre games com vcs, parece divertido. xD

    Abração!

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  2. "Gustavo Petró: É, mas lembre-se do caso Ninja Gaiden Black da EGM Brasil há alguns anos atrás

    Gus Lanzetta: Me lembro"

    O que houve?? '-'

    E quano a batalha final, é mesmo num vulcão?? Achei essa idéia absurda... mas fazer o que??

    Petró, a menos q já tenham fechado a edição, porq não fazem dois reviews? Coloque nem q seja uma notinha pequena sobre a sua opinião...

    Eu já discordei de muitas coisas em reviews, tanto pro positivo quanto pro negativo, mas nunca deixaria uma revista por uma coisa dessas. Review me ajuda, mas não forma a minha opinião pessoal!

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  3. O problema foi esperar q Resident Evil 5 fizesse o reboliço q fez RE4, mas se esquecem q fenómenos como este não acontece sempre!! É um jogo MUITO BEM PRODUZIDO e eu não achei raso. Funciona muito bem para fechar com chave de ouro esta etapa da serie. O encontro de Chris e Jill foi fodastico, vcs estao muito ranzinzas. Deixo com vcs as palavras do site Giant Bomb: "Se este não é um otimo jogo de açao, não sabemos o que é" NOTA 10/10

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  4. o problema foi esperar q o Resident Evil 5 fosse o reboliço q foi RE4, mas se esquecem q fenómenos como este não acontece sempre! Deixo com vcs as palavras do site Giant Bomb: " Se este não é um otimo jogo de açao, não sabemos o q é" NOTA 10/10

    Mateus Prado, Belo Horizonte

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